quinta-feira, 18 de outubro de 2007

No elevador

O ruído da passada apressada contrastava com a fina garoa que caia. Como nos bons tempos, São Paulo amanheceu nublada, com uma brisa fria.

Lauro despertou às seis. Ana permaneceu dormindo, aproveitando o pouco descanso que os oito meses de gravidez ainda permitiam.

Nove anos havia se passado desde que ele entrou no elevador, naquele prédio da Alameda Franca onde moravam.

Lauro caminhava sem notar as pessoas. Ainda não havia superado a morte do irmão. De cabeça baixa chegou no prédio, ignorou o porteiro que segurava alguma correspondência para lhe entregar e entrou no elevador, onde Ana, que voltava da garagem estava.

A vida de Ana não era menos triste. Filha de pais separados, viveu ora na casa da mãe, ora na casa do pai, até perceber que o melhor para ela seria morar sozinha. Aos olhos dos pais, Ana se sentia como uma lembrança de um amor que não deu certo.

Como sempre acontecia quando se encontravam por um mísero instante seus olhares se encontraram. Nesses dias, geralmente, Lauro enrubescia e Ana, imediatamente, olhava para o teto.

Naquele dia, no entanto, nada disso aconteceu.

Sem nada dizer, sem nada pedir, Ana afagou os cabelos de Lauro, e ele ao sentir esse carinho a abraçou.

Desde então Ana e Lauro trocaram confidencias, transformaram tristeza, abandono e angústia em afeto, alegria e felicidade.

Ana deu a Lauro paz e segurança. Lauro deu a Ana carinho e amor, sentimentos, que ela, abandonada entre as brigas dos pais, nunca teve.

Ambos agora esperam, ansiosos, o nascimento de Lúcia.

3 comentários:

Anônimo disse...

Gostei muito do conto, em especial pelo final feliz e porque ninguém comeu carne humana!

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Fábio Félix disse...

Hummmm...Humano. Adorei!