
No interior do freezer, junto às latas de sorvete, três moscas se debatiam contra o vidro.
O calor estava insuportável, o ar repleto de suores alheios só fazia inebriar os poucos que ali passavam entre uma viagem e outra.
No rádio ouvia-se uma dessas baladas grudendas, sucesso de uns oito anos atrás.
Na estrada o silêncio do nada ensurdecia quando vez ou outra um caminhão singrava em alta velocidade, possivelmente na banguela.
Antes das duas o rádio interrompeu a balada e irrompeu mais um plantão de notícias.
Com um sotaque arrastado o locutor local anunciava que uma vez mais a estrada seguiu sua sina. Mais um acidente fatal... treze histórias finalizadas com bestial brutalidade.
Em um choque frontal, uma van, doze - tal como apóstolos - religiosas, um caminhão refrigerado, um motorista e 1024 garrafas de coca-cola se confundiram no asfalto quente.
Horas antes, o motorista estava ali, sentado na mesinha do canto, enxugando o suor no guardanapo de papel toalha, enquanto mastigava mecanicamente uma empanada já fria e, em seu caminhão refrigerado, as 1024 garrafas de coca-cola.
Agora ele estava lá, preso às ferragens, às religiosas a caminho do inferno de bíblia nas mãos... todos embebidos em sangue, rosários, suores e coca-cola.
No rádio, ouve-se um comercial do governo. Um bêbado se levantou e pediu mais uma tequila... lá a coca-cola escorre, intermitente, no asfalto.
3 comentários:
Muito bom, Sick Bastard. Quem sabe se o motorista tivesse tomado algumas daquelas Cocas, estivesse mais acordado, e tivesse evitado o acidente...rs...Abraço
-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-
Você convocou, escrevi o meu...rs...Tomei uma injeção de Ari antes, é claro. É no seu estilo. ;)
Há muitos anos, em viagem de volta do interior, parei num posto em São Carlos para tomar um café. Alguém, que estava comigo, cumprimentou um grupo de pessoas que deixavam o estabelecimento. "São conhecidos da família", comentou. Minutos depois, retomamos a viagem rumo a São Paulo e, logo dois quilômetros à frente, enfrentamos um pequeno trecho de congestionamento. Havia fumaça; do resto não me lembro. Depois fiquei sabendo que tratava-se da tal família de conhecidos, e que sobreviveu somente uma criança. O rosto de um deles, uma mulher - que me disse "oi" no posto de São Carlos - nunca saiu de minha cabeça.
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